24.9.09

grupo de extermínio

A banda de Cuiabá Violins compôs uma música chamada Grupo de Extermínio de Aberrações (que, no vídeo abaixo, é apresentada pela banda curitibana Terminal Guadalupe). A música, mal interpretada pelos conservadores desatentos de plantão, acabou sendo denunciada ao Ministério Público (porque alguém achou que era um hino de algum grupo extremista). Grupo de Extermínio de Aberrações, na verdade, usa de uma ironia refinada pra fazer a denúncia de uma realidade que ultrapassa o anúncio feito pela Laranja Mecânica. No clipe abaixo, gravado por um cinegrafista amador, Dary Jr, vocalista da Terminal Guadalupe, faz uma pequena introdução e termina a música citando Perfeição, da Legião Urbana.




Grupo de Extermínio de Aberrações (Violins)


Atenção, atenção!
Prestem atenção ao que vamos dizer
Nós somos o Grupo de Extermínio de Aberrações
de toda sorte que você possa conceber
vindo até vocês pra pedir
qualquer quantia que se possa fornecer


e eu garanto que seus filhos agradecem
por crescer sem ter que conviver
com bichas e michês
e pretos na tv


Tá faltando soco inglês
o estoque de extintor não chega ao fim do mês
não to pedindo aqui fortuna pra vocês
a gente quer limpar o mundo de uma vez


Ei, amigão, amigão!
abaixa essa arma que é melhor para você
Nós somos o Grupo de Extermínio de Aberrações
e não viemos pra ofender
viemos receber sem medo de pedir pra vocês
qualquer quantia que se possa fornecer
e eu garanto que seus filhos agradecem
por crescer sem ter que conviver
com discípulos de Che
e putas com HIV

22.9.09

fora de moda

Ainda não falei na primeira pessoa, aqui, aproveito a oportunidade de hoje para me apresentar: sou Carlos Henrique Caetano, estudei filosofia e trabalho como educador numa instituição que dá assistência a meninos e meninas de rua do Centro de Campinas. Freqüentador assíduo de baladinhas underground na cidade, já sofri várias formas de preconceito por conta da minha orientação sexual. Ontem, no entanto, a coisa foi um pouco além.

Quando saí do trabalho, por volta de 20h30, fui até o ponto de ônibus que fica na Avenida Orozimbo Maia, em frente à Maternidade de Campinas. Ali haviam, pelo menos, vinte pessoas paradas esperando o ônibus. Em menos de cinco minutos, um jovem branco, forte e careca que comprava alguma coisa na banca da calçada abordou-me dizendo que era muito perigoso alguém como eu andar pelo Centro da cidade, todos os dias, com aquela cor de cabelo (meu cabelo é vermelho desde o início desse ano). Eu disse a ele que cor de cabelo não oferece risco. Ele respondeu, fazendo cara de mau, que skinheads tem percorrido a cidade e não costumam dar trégua a pessoas como eu. Depois disso, retirou-se e virou a esquina. As pessoas que estavam no ponto ficaram assustadas com a situação e a moça da banca que vendeu algo ao careca me perguntou se era sempre assim. Eu disse a ela que sabia dos riscos de manifestar minha orientação sexual em público, mas nunca havia sofrido uma ameaça daquele tipo. Uma outra senhora perguntou se só gays pintam cabelo de vermelho. Um senhor me disse: se eu fosse você faria um Boletim de Ocorrência.

A verdade é que fiquei chocado com a maneira como o rapaz se aproximou de mim, mesmo porque eu nunca o havia visto. Não posso dizer que não tive medo, mas me senti protegido pelo número de pessoas que se encontravam no ponto de ônibus e tomaram partido a meu favor. Entretanto, se isso for uma perseguição e a ameaça for verdadeira, pode acontecer de, um dia, quando o ponto estiver vazio, sofrer alguma espécie de violência gratuita. Nem por isso deixarei de usar cabelo vermelho. E, se estiver acompanhado de alguém, não hesitarei em andar de mãos dadas e manifestar, publicamente, meu carinho (como fazem os casais de qualquer orientação sexual). Só acho importante deixar registrado aqui, nesse espaço de debate, esse acontecimento porque nós sabemos que a homofobia está fora de moda, entretanto, muita gente por aí insiste em ser démodé.

Um abraço!


publicado em: http://homofobiajaera.wordpress.com/